Palavras soltas...

(...) "Tenho aprendido muitas coisas nos últimos tempos. Uma delas é que jamais podemos deixar para amanhã um gesto de carinho, um sorriso verdadeiro, uma declaração de amor."

Confira a crônica completa clicando aqui.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Dois gols que me fizeram chorar

Não. Não é mais uma crônica sobre futebol...

A primeira e penúltima vez que chorei por causa de um gol, foi em 1995, na final do Campeonato Carioca, quando o bastardo do Renato Gaúcho, jogando pelo Fluminense, hoje na Segunda Divisão do Futebol Brasileiro (de onde jamais deverá voltar) marcou um gol de barriga (!!!) no meu Flamengo. Perdemos o título e eu fiquei traumatizado, jurando, naquele momento e na segunda-feira seguinte, após ser muito zoado pelos colegas de escola, que nunca mais eu choraria por causa de um gol...


Mas, eis a vida!
No domingo passado descumpri minha promessa. E, se quer saber, com muito prazer... Vou narrar a jogada do gol e imagino que você irá me entender.
Meu artilheiro há mais ou menos oito meses atrás sequer andava. Apenas ficava deitado, engessado e triste em uma cama. Para um jogador tão jovem – ele tem apenas seis anos – era difícil aceitar que em um domingo de sol e calor, enquanto todos os outros vão para a piscina ou jogar bola na porta de casa, ele precisava ficar deitadinho, em repouso absoluto, contentando-se a assistir filmes, muitos vistos mais de dez vezes...
Mesmo em inicio de carreira, ele foi para o estábulo tão cedo depois de uma entrada violenta da vida. Entrada para cartão vermelho. Cartão vermelho bem aplicado, diga-se de passagem, para uma mãe um tanto quanto inconseqüente.
Explico: em uma tarde normal de 2008 de um sábado normal, em uma cidade normal, uma criança normal, andava em sua bicicleta nova que ganhara no dia do seu aniversário. Em dado momento, um tombo, também normal nessa idade e nessas condições – pois, verdade seja dita, ele sempre gostou de arriscar manobras radicais – provocou uma fratura no seu fêmur direito. Acidentes acontecem. Resultado: meu camisa 10 teve que ser engessado e obrigado a ficar em repouso. Normal.
O lance maldoso e irresponsável da história ocorreu quando a mãe, com pressa, não se sabe de que, resolveu, por conta própria e antes do momento correto, retirar o gesso, utilizando uma faquinha de serra. Uma faquinha de serra! Resultado: o osso não se colou totalmente, ficou defeituoso e a criança, que antes corria, saltava e pulava para todos os lados, agora mal andava – mancava. Sofria.
Sofri.
Chorei.
Mas, não me entreguei. Não nos entregamos. Fomos guerreiros.
Decidimos recomeçar o jogo. Tudo de novo. Zero a zero.
Uma nova cirurgia foi marcada. O sofrimento era certo – para o meu artilheiro e para mim, seu maior torcedor!
Juntos, enfrentamos todos os adversários! Assim como se faz em uma grande equipe.
Seu fêmur defeituoso precisou ser quebrado novamente pela equipe médica. Pinos de metal foram inseridos em seu corpo pequeno, porém forte e cheio de vitalidade, e ele foi novamente engessado. Mas, desta vez, o gesso começava em sua cintura e descia por toda extensão de sua perna direita.
Pense em uma cena triste. Daquelas que te façam querer sair correndo e pedir colo.
Não me lembro de ter visto uma cena tão apavorante em toda a minha vida, quanto aquela com a qual me deparei quando cheguei ao quarto do hospital, após a cirurgia (bem-sucedida). Todo engessado, ainda meio grogue por conta da anestesia, ele chorava. Implorava-me para que o tirasse de lá. Suplicava-me para que eu dissesse que tudo iria passar... “Papai. Fala que vai parar de doer que para! Se você falar que sara, sara! Por favor, papai...”.
Com os olhos úmidos, contive minhas lágrimas, parei de tremer e o abracei. Foi o abraço! Mesmo sem ter certeza de nada, apenas a vontade suprema de que ele saísse daquela situação o quanto antes, eu prometi: “Vai dar tudo certo!”.
Ao virar as costas, procurando por um copo de água para molhar minha boca seca, já que todo o líquido do meu corpo parecia estar em meus olhos, prestes a escorrer pelo rosto, chorei.
Chorei igual criança.

O sofrimento, por pior que seja, sempre nos traz uma lição. Faz crescer. E durante os pouco mais de cinco meses em que ele esteve engessado, imóvel naquela cama, sem poder tomar um banho digno, sem poder andar, sem poder brincar de bola, sem poder vir correndo, pular e me abraçar, eu aprendi que pequenas coisas que a principio parecem tolas, como dar um passo para frente, podem mudar uma vida.
A mudança, aliás, começa quando damos o primeiro passo.
Aprendi, depois de seis anos, que ser pai é mais, muito mais, do que dar presentes no dia das crianças, levar para passear no zoológico, brincar!
Ser pai é deixar-se amar. É se entregar totalmente à sua cria.
Ser pai é se emocionar de verdade, com direito a lágrimas e tudo, quando seu filho lhe trás um sol (quadrado), todo torto, colorido de verde (um sol verde!), com duas pessoas desenhadas um pouco mais abaixo, abraçadas, e diz pra você, sorrindo e orgulhoso: somos nós, eu e você, papai!
Ah, num sei: ser pai é tudo!

Enfim, ele se recuperou. Ainda assim, mesmo após a retirada do gesso, o sofrimento não acabou. Nos primeiros dias, com a perna ainda meio atrofiada, ele reaprendeu a andar. Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que eu ainda estava dormindo e escutei um estrondo na cozinha. Era ele, ainda sem conseguir dobrar o joelho, tentando vir até o meu quarto, apoiando-se na parede e em alguns móveis. O estrondo se deu quando, sem verificar, meu artilheiro apoiou-se em um armarinho e este veio ao chão. Assustado, fui correndo ver o que era: e ele, sorrindo e meio sem graça disparou: “Eu to tentando andar, mas quebrei as coisas da vovó tudo. Será que ela vai danar comigo?”.
(...)

Mais de quatro meses depois, fui incumbido de levá-lo até a uma festinha do para as crianças da escola. Chegando lá, o de sempre: crianças correndo, gritando, pulando e sorrindo. Algodão doce, picolé, pipoca e guaraná! Perfeito pra eles.
Eis que chega a hora do futebol.
Com um misto de timidez e orgulho, ele me convida: “Vem, vem ver eu jogar!”.
Fui.
Nos primeiros minutos, ele não foi muito bem. Não sabia se prestava atenção no jogo e ou se me olhava para confirmar se eu, se torcedor número um, prestava atenção na partida. Disparando um olhar fulminante e sincero dentro dos seus olhos, eu lhe disse, sem soltar uma só palavra: “Eu sempre vou estar aqui”.
Bola rolando, desorganização, nada de esquema tático, com exceção dos goleiros, nenhum jogador ficava na sua posição de origem. Aonde a bola ia, todos iam atrás, lembrando um grande formigueiro na busca de uma pedra de açúcar.
De repente, eis que a bola sobra na área para ele. Sem nenhuma técnica, mas cheio de vontade, ele arrisca o chute – erra – e chuta o vento. Porém, ele tem sorte de boleiro e sangue de artilheiro, aí a bola bate em sua canela e se ajeita perfeitamente para a segunda tentativa: ele dispara outro chute – com a perna direita – que desta vez pega na “orelha” da bola e entra devagarzinho no canto do goleiro.
Goooooooooooooool!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Não foi golaço, não. Não foi uma obra prima. Mas, foi o gol mas bonito que eu já vi. O gol mais importante da carreira dele. O gol da minha vida. O gol que me fez descumprir minha promessa e chorar.
O gol da vitória!
A nossa vitória!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Percebi


Cobrindo a editoria de polícia de um jornal diário, é possível perceber algumas coisas:

No caso de um acidente como, por exemplo, de um homem que trabalhava e foi soterrado por 12 mil toneladas de soja, ficando submerso a cerca de 30 metros de profundidade...
Os bombeiros correm para salvar uma vida.
Os jornalistas correm para buscar uma notícia.
Os curiosos apertam o passo para ver o que está havendo.
O agente funerário se agita para concretizar um negócio e realizar os trâmites funerários, caso o homem não sobreviva.
A Família se esforça para ter esperanças de que tudo vai dar certo...

Dezoito horas após o acidente e o corpo já sem vida enfim ser resgatado, os bombeiros saem consternados por não conseguirem salvar o operário.
O jornalista sai com a notícia, o furo, mas triste pela morte de um ser humano.
Os curiosos satisfazem seu desejo de presenciar a tragédia.
O agente funerário, do seu jeito peculiar, convence a família a contratar os seus serviços.
E a família não consegue nada. Não entende os motivos da desgraça. Não compreende o porquê de ter sido aquele homem, pai de quatro filhos. E não sabe por que justo quando mais se precisava as orações não surtiram efeito...
Eis a vida.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sobre idas e vindas...


Com exceção de um papagaio que tive quando ainda era criança, eu nunca fui de prestar muita atenção em pássaros.
Mas, gosto quando eles cantam, brincam entre si e se acariciam com a ponta do bico. Adoro quando os pássaros voam...
Meu pai tinha um Canário Belga, mas eu o soltei por não achar correto que algum ser inocente passe a vida preso em uma gaiola. Até hoje ele não sabe que eu fiz isso.


Ah, sim, estou falando sobre os pássaros para contar sobre um Beija-flor que apareceu no meu quintal. Apesar de ser muito rápido, consigo observá-lo.
É lindo. Cheio de cores. Será que ficou tão colorido por se alimentar do néctar das flores?
Dadá Maravilha, folclórico jogador de futebol, dizia que só três coisas conseguem permanecer imóveis no ar. Ele – Dadá – o helicóptero e o Beija-Flor.
É verdade. O Beija-flor fica paradinho no ar, enquanto “beija” uma flor. Aliás, tudo para pra ver o Beija-flor parar, voar – ser Beija-flor! O tempo para quando passa o Beija-flor...
Eu fico parado, olhando o Beija-flor. Deitado na rede, eu o observo chegando e partindo sem ao menos perceber minha presença. Eu, por outro lado, pauso a leitura do jornal ou daquele livro que estou lendo.
Observando-o percebi que apesar de lindo, é triste o Beija-flor. A beleza externa, alcançada pela mistura inenarrável de cores e pela agilidade em voar e conquistar admiradores, contrasta com a triste realidade de não poder fazer outra coisa, senão beijar flores e voltar para sua prisão. Sim... Este Beija-flor, pelo que sei, vive preso.
Sua gaiola, não tem flor. Não tem jardim. Não tem alegria. Acho que não tem vida – a vida que ele só encontra aqui de fora, nos quintais e jardins alheios.
Vive triste, o Beija-flor.
Um Beija-flor sem flor.
Seu dono, descobri mais tarde, também acha lindo o Beija-flor. Por isso, e por medo de perdê-lo, vigia o passarinho.
O coíbe.
O proíbe.
Apesar de vir voar no meu quintal, o Beija-flor não se aproxima. Minto: uma vez ele veio até mim. Ficou ao meu lado e me percebi dentro dos seus olhos. Pedi em silêncio para que ele ficasse – ele foi embora e só voltou novamente por aqui para se alimentar do néctar das flores. Depois disso, ele não veio mais até mim.
Tem medo, o Beija-flor. (?)
É prisioneiro.
Da sua prisão, acredito que só ele possa se soltar ou, se escolher assim, pode para lá nunca mais voltar.
Mas, por que volta para a gaiola o Beija-flor? Gosta de ser preso ou tem medo de ser livre? (!)
Pode ser - e as vezes isso acontece - que o passarinho goste mesmo daquele que lhe prende...
Não sei.

Enquanto isso, enquanto ele não decide sua vida, beija flores e voa... voa para longe, para perto de mim ou para outros jardins onde encanta tanto como por aqui, mas sempre volta para aquele que diz por ele ter amor. Será que é amor o que sente aquele que prende o Beija-flor? Quem ama não impõe e sim conquista a presença do ser amado... (?)
Não entendo nada sobre o amor. E muito menos sobre o amor do Beija-flor. Aliás, seria tolice querer entender.
Eu, enquanto isso, o observo – o Beija-flor – no seu intenso bater asas e rotina de Beija-flor... quando ele vai embora, não sei se torço para que volte amanhã ou se desejo que ele não volte mais.
Para não ter que perdê-lo, acho que prefiro não tê-lo. É melhor, mais justo e natural, deixá-lo vir, voltar, voar...