Palavras soltas...

(...) "Tenho aprendido muitas coisas nos últimos tempos. Uma delas é que jamais podemos deixar para amanhã um gesto de carinho, um sorriso verdadeiro, uma declaração de amor."

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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Uma história


Parece cena de filme, mas, às vezes, tudo o que eu queria era ser um chinês muito pobre, muito velho e muito sábio, daqueles que costumam morar nos fundos de uma aldeia entre matas e montanhas.
Normalmente, são com esses anciãos que os outros moradores da aldeia buscam as respostas para suas dúvidas, as curas para suas doenças, uma palavra de conforto ou apenas a sua presença, a qual inspira segurança.Queria ser esse velho sábio chinês pelo fato de que odeio não ter uma resposta, uma palavra sequer, para determinados assuntos, sobretudo os que dizem respeito aos relacionamentos e o comportamento humano.Mas, não era sobre isso que eu queria falar. O que quero contar é que hoje, enquanto almoçava com uma pessoa muito especial, escutei uma história bonita, também digna de filme e ainda sem final. Mesmo sem desfecho, gostei causo e aqui tento recontá-lo.

Eis a vida.(...) Cheio de amor para dar, porém, sem tempo e sem ânimo para viver amores, um jovem, inocentemente, fechou um trato consigo mesmo: desde seu último relacionamento, terminado em setembro de 2008, não iria envolver-se com ninguém a ponto de se apaixonar, a ponto de querer algo a mais que não um beijo, uma transa, um ficar. Pelo menos até o próximo ano, seria assim. Então, ficou combinado entre ele e ele mesmo e assim estava decidido. Honesto que é, não houve a necessidade de um contrato assinado. Homem que é homem tem palavra e palavra vale mais do que tinta nanquim rabiscada em papel.Que vida boa desde então! Jovem, começou a aproveitar o que não aproveitara antes. Festas, bebidas, garotas, mulheres. Abraços, beijos, peles, suor e perfume. Alegria. Curtição. Sim, é claro, amigos. (É ou não é uma vidona?)Eis que não acreditando na força do destino ou nas coincidências cotidianas, ele curtiu. “Sou novo, tenho mesmo que aproveitar a vida!”, sempre afirmava para si mesmo. Tolo que é fugiu dos sentimentos e de quem queria lhe dar algo a mais do que beijos e uma boa noite de amor, ops, sexo. E assim foi, por quase um ano.
(...) Um dia, começou a aproximar-se daquela que seria sua nova investida. Linda, porém, ela não é só mais um rosto e um corpo bonito na multidão. Um ano antes, os dois se encontraram, mas ainda não se conheciam. Nada além de “ois”, “olás”, “bom dia” e “boa tarde”, “até amanhã”. “Um dia”, dizia ele, “vou ficar com essa moça. Ah, se vou”.Casada e fiel, ela nunca o olhou de outra forma, senão como um colega. Casada, fiel, mas um pouco infeliz, ela começou, com o passar do tempo e do crescimento da afinidade entre os dois a confiar e confidenciar a ele um pouco das suas frustrações e desencantos dentro do matrimônio. Ex-casado e fiel, mas muito infeliz no matrimônio, tudo o que ele poderia fazer era ouvi-la e – honestamente – lhe desejar melhoras e torcer para que tudo passasse e se resolvesse da maneira mais feliz. O sorriso dela, para ele, beira à perfeição. Muitas vezes, ele se calou com medo de interpretações erradas da parte dela. Quantas vezes quis chamar de burro esse marido que não a compreendia, não a ouvia e muitas vezes, por incrível que pareça, não a enxergava. Entretanto, tudo o que o jovem não queria era que ela pensasse: “está falando assim do meu marido só porque estou frágil. Só quer se aproveitar do momento para atacar”. E assim se seguiu. Os conhecidos se tornaram colegas, que se tornaram amigos, que se tornaram amiga e amigo, mulher e homem. Entre telefones, trocas de e-mails e conversas, boas conversas, embaixo de uma árvore, eis que surgiu entre eles uma vontade gêmea de ficar e não pensar em nada. Desejaram-se. Permitiram-se. Encontraram-se. Entregaram-se. Ficaram juntos. Abraços, beijos, transa. Fim. Não, inicio.Ele, fraco que foi, quando deu de si, já estava, da maneira mais ingênua, mais tola, mais veemente, apaixonado. Não resistiu e foi vítima para depois ser réu confesso do seu “erro”. Tolo! Ela é casada! Ela tem outro, ama outro! Ela não quer!Por mais que tentasse explicar para si mesmo que tudo não passava de uma confusão, um engano, se viu entregue, de braços abertos àquele que seria seu amor platônico.Resolveu que seria melhor esquecer tudo. Não deu conta. Decidiu, então, contar tudo à ela. Guardar certas coisas só para si mesmo não é nada bom, pensou. Contou.Susto! Surpresa. (das duas partes) É difícil precisar quem ficou mais assustado... mas, ainda assim, os dois continuaram sua amizade, suas conversas, suas molecagens. E, o melhor de tudo, continuaram se olhando nos olhos na hora de conversar.Eis que dois dias depois da revelação, na hora do almoço, juntos e sozinhos, longe dos colegas de trabalho, decidiram, enfim, falar sobre o assunto pessoalmente e não ao telefone ou por e-mail. Meio sem graça, ela puxou a conversa. Atento e com medo de ter estragado tudo, ele a ouviu. Em pleno meio-dia, tudo parou. Tudo se calou. Eram só ela, seu olhar e sua voz. Mas, letra por letra, palavra por palavra, a realidade foi se desenhando à frente do jovem... Não dá. É impossível que eles fiquem juntos.

Entrementes, tirar o positivo de cada situação, mesmo que ela não seja a mais feliz do mundo, é um dom. E eles, ao que tudo indica, tiraram. Para ele, serviu para mostrar que seu coração sabe escolher bem alguém digno de sentimento. Para ela, toda a situação serviu para mostrar que embora o homem que ela ama não veja, talvez por tolice, excesso de zelo ou simples descuido, ela é sim, muito especial e digna de atrair olhares sem maldades, que vejam muito mais do que a sua indiscutível beleza exterior. A jovem entendeu que nem todos querem só sexo com ela. Carinho, abraços e palavras verdadeiras, muitas vezes, valem mais, muito mais.

Cada um tem sua história. Quando duas histórias se encontram, tornam-se uma nova história. Algumas delas têm fim. Outras nem ao menos começam e param no prólogo. A desses dois, para mim, está apenas começando... daqui a alguns anos, talvez ainda continuem sendo dois amigos, quem sabe? Ou, não. De qualquer forma, é uma história bonita de se contar...

Seu eu fosse aquele ancião chinês morador do fundo de uma aldeia entre os montes e vales de terras orientais, eu daria apenas um conselho, sábio, aos dois: Permitam-se ser felizes.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que história bonita! talvez ela ainda não se deu conta do que tá perdendo. Não acho que seja impossível eles ficarem juntos. Se eu fosse aquele ancião diria a eles que o tempo vai resolver tudo, ele sempre resolve! Basta ter paciência!!
Bjosssss!!!!

Patrícia disse...

lindas palavras, linda história.

você acredita em reciprocidade de sentimentos?

Anônimo disse...

Os conceitos de amor, felicidade, fidelidade e outras coisas do gênero são difíceis de serem definidos. E quando tentamos estabelecer um conceito para isto acabamos colados no preconceito. A ética humana nos leva a pensar que todos merecem as mesmas oportunidades e portanto merecem ser felizes. Caetano já disse: "Gente nasceu para brilhar". Sendo assim, ao permitirem-se ser felizes é importante envolver nisto a consciência tranquila de que nada está sendo feito em prejuízo a qualquer outra pessoa. Trata-se de um ato honesto, dígno e cheio de amor. A vida muitas vezes é incerta e o que planejamos nem sempre acontece. As mudanças de rumo devem servir para agregar e nos proporcionar crescimento e amadurecimento, sem, contudo, nos deixar abater com o sofrimento. A História, com certeza, terá um fim, como tudo na vida tem. A reflexão que deve ser feita é se o que acontece entre os dois "amantes" realmente é amor ou uma conveniência momentânea em virtude das oscilações naturais da vida. Afnal, todos são detentores de suas perversidades secretas e muitas vezes até mesmo o olhar, como o de espelho, é capaz de revelar a verdade.

Anônimo disse...

Foi a primeira vez que você ouviu essa história?

Ao contrário de todos, não acho a história bonita, acho que seus personagens devem sofrer muito. O rapaz, que gosta assim de um jeito, dela e que não sabe explicar esse jeito. Não sabe se esse sentimento é tão forte a ponto de valer a pena lutar com unhas e dentes pelo amor dela. E ainda corre o risco dela dizer mais uma vez a ele que não dá...
A moça, que é casada e que gosta do marido, mas que também deve gostar dele, acredito que ela não ficaria com um amigo sem ter pelo menos um sentimento, por menor que seja, por ele. Ela também deve ter dúvidas, principalmente quando ouve dele o que gostaria de ouvir do marido. Ela deve esquecer e "não pensar em nada", só ouvir o que tantas mulheres gostam de ouvir.
E o marido, que por mais que não saiba, está perdendo ela aos poucos, é injusto pra ele, porque ele não pode fazer nada, só não exergá-la como merece, fazendo assim com que o matrimônio se desgaste com mais facilidade.

É Paulo, acho que você está como alguém que conheço, cheio de histórias sem finais, ou sem finais felizes

Parabéns por conseguir passar sentimentos através das palavras

Jaki Barbosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.